domingo, 6 de janeiro de 2008

Além do real e do virtual


A necessidade de expansão da realidade é tão antiga quanto o homem. Do mito ao teatro, à pintura, à leitura, o desejo de meta-realidade pôde manifestar-se e realizar-se de vários modos.
Antes do cinema e depois da invenção da perspectiva, os jogos dos fachos de luz e o local onde era exposto um quadro em uma igreja demonstravam o objetivo claro de querer simular o real, de mostrar uma cena ou um fato como se este estivesse se repetindo, naquele lugar e naquele momento, ultrapassando a concepção diacrônica do tempo.
Fazer pesquisa em contextos digitais pressupõe uma série de importantes mudanças que pouco têm a ver com as técnicas de pesquisa do método de observação tradicional.
Em primeiro lugar, uma transformação importante se dá pelo fato que a interação não acontece em um lugar geográfico, ou seja, no interior de uma espacialidade definida - a rede não tem lugares, mas arquiteturas informativas que mudam constantemente. Mas não é este o ponto central: mais significativo parece ser o fato de que a rede, na sua expressão atual, não é mais mediada e veiculada exclusivamente pela tela do computador. Estamos, de fato, on-line, mesmo quando pensamos que não estamos, e já podemos nos conectar de vários outros modos, utilizando diversas interfaces móveis. O impacto de tudo isso não está tanto na impossibilidade de descrever algo "on-line", uma interação ou um acontecimento, mas, sobretudo, na consequente impossibilidade de narrar algo "off-line".
Em outros termos, a situação social que vivemos todos os dias é algo que não pode mais ser dividido em off-line e on-line, nem em situações reais e situações virtuais. O nosso mundo não é mais nem real nem virtual, mas algo de diverso, híbrido, onde o lugar é sempre expandível informaticamente, e onde a experiência não é tão somente social, estendendo as nossas sensibilidades e sentires inéditos, transorgânicos, e não mais "espaço" e "antropo"-cêntricos.

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